O desenvolvimento do cânon do Antigo Testamento
A história da canonização da Bíblia é
muito fascinante. À medida que Deus ia revelando sua palavra e o
Espírito santo movendo seus profetas, nenhum deles tinha em mente como
seu “capítulo” iria se encaixar no plano global do Senhor. E cada um
destes capítulos nos mostra o grande amor de Deus pela humanidade e o
plano maravilhoso da redenção, que só poderia vir de Deus que fez e
sustenta todo universo.
Algumas distinções importantes
Os três passos mais importantes no processo de canonização
Há três elementos básicos no
processo de canonização: a inspiração de Deus, o reconhecimento pelo
povo de Deus e a coleção dos livros inspirados. A inspiração cabia ao
próprio Deus, mas os dois passos seguintes, Deus os incumbiria a seu
povo.
Inspiração de Deus –
Deus deu o primeiro passo na canonização da Bíblia, quando ele mesmo os
inspirou. O povo de Deus não teria como reconhecer a inspiração de um
livro, se Deus mesmo não tivesse dotado os 39 livros que compõem o Velho
Testamento, de autoridade divina.
Reconhecimento por parte do povo de Deus
– Quando Deus dotava algum livro de autoridade, seu povo o reconhecia.
Este reconhecimento ocorria imediatamente pela comunidade para a qual o
livro foi destinado.
Os escritos de Moisés foram reconhecidos em seus
dias(êx. 24:3), como também os de Josué(Js. 24:26), os de Samuel(1 Sm.
10:25) e os de Jeremias(Dn. 9:2). Este reconhecimento seria confirmado
pelos crentes do Novo Testamento e também por Jesus.
Coleção e preservação pelo povo de Deus
– O povo de Deus colecionava e guardava sua Palavra. Os escritos de
Moisés foram colocados na arca(Dt. 31:26). As palavras de Samuel foram
colocadas num livro e o pôs perante o Senhor(1 Sm. 10:25).
A lei de
Moisés foi preservada no templo nos dias de Josias(2 Rs. 23:24). Daniel
tinha uma coleção da lei de Moisés e dos profetas(Dn. 9:2; 6:13).
Os
crentes do Novo Testamento tinham toda escritura do Velho Testamento(2
Tm. 3:16), tanto a Lei como os Profetas(Mt. 5:17).
A diferença entre os livros canônicos e outros escritos religiosos
Apesar da importância que
alguns livros tinham, assim como: Livro dos justos (Js. 10:13) e o Livro
das Guerras do Senhor(Nm. 21:14), nem todos os escritos eram
considerados canônicos.
Os livros apócrifos, escritos
após o período do Velho Testamento (c. 400 a.C.), tinham seu valor
religioso definido, porém jamais foram delimitadores da fé, doutrina e
conduta cristãs, diferentemente dos escritos inspirados e dotados da
autoridade divina, pois têm autoridade sobre os crentes.
Nenhum artigo de fé deve basear-se num livro não-canônico, não importando o valor religioso do mesmo.
A verdade transmitida pelos livros inspirados é que constitui o fundamento das verdades da fé.
A diferença ente canonização e categorização dos livros da Bíblia
Tem havido muita confusão
quanto à data dos escritos sagrados e sua canonização. A quem defenda
que a canonização foi modular. Ou seja, seguindo as datas das seções do
Velho Testamento:
Porém, algumas seções, assim
como os Escritos foram reagrupados diversas vezes desde que foram
redigidos e foram aceitos antes mesmo dessas datas e reagrupamentos,
como veremos em breve.
Compilação Progressiva dos livros do Velho Testamento
A evidência da coleção progressiva dos livros proféticos
Desde o início, os escritos proféticos eram reunidos e guardados, tidos como inspirados e autorizados por Deus.
- As leis de Moisés foram preservadas ao lado da arca da aliança (Dt. 31:24-26) e posteriormente no templo (2Rs. 22:8)
- Josué acrescentou suas palavras no livro da lei de Deus(Js. 24:26)
- Samuel informou o povo sobre os deveres do rei e escreveu em um livro e o pôs diante do Senhor(1 Sm. 10:25)
- Ezequiel nos informa que havia um registro oficial de profetas e seus escritos no templo (Ez. 13:9)
- Daniel refere-se aos livros que continham a “Lei de Moisés” e os “Profetas” (9:2,6,11)
Esta evidência de coleção
progressiva dos escritos dos profetas se confirma pelo uso dos escritos
dos profetas antigos feitos pelos profetas que viriam mais tarde.
- Os livros de Moisés são citados por todo Velho Testamento. Desde Josué (1:7) até Malaquias (4:4)
- Os livros de Reis citam a vida de Davi conforme narrada nos livros de Samuel
- Crônicas faz uma revisão da história de Israel desde Gênesis até Reis, incluindo o elo genealógico mencionado apenas em Rute (1Cr. 2:12-13)
- Neemias 9 resume a história de Israel conforme registro de Gênesis a Esdras
- Há referências aos Provérbios de Salomão e ao Cântico dos cânticos em 1 Rs. 4:32
- O profeta Jonas recita partes de muitos Salmos (Jn 2)
- Ezequiel menciona Jó e Daniel (Ez. 14:14-20)
Nem todos os livros são
citados em livros posteriores, porém há evidências suficientes para
provarmos que existia uma coleção progressiva dos escritos considerados
divinos e dotados de autoridade e inspiração.
A evidência da continuidade profética
Durante a coleção dos escritos
proféticos, houve uma continuidade dos eventos e profecias narradas
pelos seus autores.
Os cinco primeiros livros da Bíblia foram escritos
por Moisés. O próximo livro é o de Josué, porém vemos que o capítulo
final de Deuteronômio narra a morte de Moisés. Por não ser um escrito
profético, mas sim a narração de um fato da época, entendemos que não
pode ter sido Moisés quem escreveu o final do livro de Deuteronômio.
Provavelmente teria sido Josué, já que foi o sucessor de Moisés. E em
seu livro o primeiro capítulo continua os eventos imediatos acontecidos
após a morte de Moisés.(Js. 1:1).
Juízes retoma a narrativa de
onde parou o livro de Josué. Porém este registro só se completou nos
dias de Samuel, como podemos observar pela frase “Naqueles dias
não havia rei em Israel” (Jz. 17:6;18:1;19:1;21:25). Depois disso a
continuidade profética se estabeleceu com a criação de uma escola de
profetas dirigida por Samuel(1 Sm. 19:20). Desta escola sairiam vários
livros que cobririam a história do povo de Israel e Judá no período dos
reis e profetas. Vejamos:
- A história de Davi foi escrita por Samuel (1 Sm.), por Natã e por Gade (1 Cr. 29:29)
- A história de Salomão foi escrita por Natã, Aías e Ido (2 Cr. 9:29)
- Os atos de Roboão foram escritos por Semaías e Ido (2 Cr. 12:15)
- A história de Abias foi acrescentada pelo profeta Ido (2 Cr. 13:22)
- A história do reinado de Josafá foi registrada pelo profeta Jeú (2 Cr. 20:34)
- A história do reinado de Ezequias foi registrada por Isaías (2 Cr. 32:32)
- A história do reinando de Manassés foi registrada por profetas anônimos (2 Cr. 33:19)
- Os demais reis também tiveram suas histórias registradas pelos profetas (2 Cr. 35:27)
Podemos perceber que os
livros de Samuel, Reis e Crônicas não são idênticos aos livros
mencionados acima.
Nos parece que os livros do cânon do Velho Testamento
são pequenos textos tirados de narrativas mais longas, como demonstra a
frase “e os demais atos” do rei tal estão escritos no livro tal do
profeta tal, isso demonstra claramente a sucessão profética iniciada por
Samuel.
Notem que não houve menção a
Jeremias, mesmo escrevendo antes e durante o exílio, ter escrito uma
dessas histórias. Porém, Jeremias era um profeta, historiador e
escritor, como claramente afirma em várias ocasiões: Jr. 30:2 – Jr.
36:1-2 – Jr. 45:1-2 – Jr. 51:60-63.
Podemos verificar que o último capítulo de 2 Reis corresponde aos capítulos 52, 39, 40 e 41.
Estes são indícios de que ele
era responsável por ambos os livros.
Mais tarde, no exílio, disse ter
acesso aos livros de Moisés e dos profetas.
Menciona não só Jeremias,
mas também cita a predição do cativeiro no capítulo 25 (Dn. 9:2,6,11).
Com base nisso é razoável supor que os resumos dos escritos proféticos
tenha tomado a forma dos livros dos Reis.
Desta forma, a continuidade
profética a partir de Moisés, Josué e Samuel se completaria com as obras
de Jeremias.
Durante o exílio, Daniel e
Ezequiel continuaram o ministério profético. Ezequiel reconheceu um
registro oficial de profetas nos arquivos do templo(Ez. 13:9). Ezequiel
se referiu a Daniel como um “notável servo de Deus”(Ez. 14:14-20).
Visto
que Daniel possuía cópia dos livros de Moisés e dos profetas, dos quais
o livro de Jeremias, podemos presumir razoavelmente que a comunidade
judaica no exílio babilônico possuía os livros de Gênesis a Daniel.
Depois do exílio, Esdras volto
da Babilônia levando consigo os livros de Moisés e dos profetas(Ed.
6:18 – Ne. 9:14,26-30).
Nos livros de Crônicas sem dúvida ele registrou
seu relato sacerdotal da história de Judá e do templo (Ne. 12:23).
Crônicas está ligado a Esdras-Neemias pela repetição do último versículo
de um, como o primeiro versículo do outro.
Com Neemias completa-se a
cronologia profética. Cada profeta, desde Moisés até Neemias contribuiu
para a crescente coleção de livros, que foi preservada pela comunidade
dos profetas a partir de Samuel.
Até agora não existem evidências de que outros livros, houvessem alcançado canonização depois dessa época (c. 400 a.C.)
A evidência de que o cânon do Velho Testamento se concluiu com os profetas
Vimos que toda Escritura hebraica havia sido colecionada ao longo dos anos pelos profetas que Deus havia levantado.
Vimos também que houve
continuidade nestes escritos. Cada novo profeta se apoiava na autoridade
dos escritos do profeta anterior e juntava seus escritos aos escritos
anteriores.
Na época de Neemias (c. 400
a.C.), os profetas já haviam produzido todo cânon hebraico, ou seja, os
24 livros que compõem a Bíblia hebraica.
O Novo Testamento cita praticamente todos os livros do cânon hebraico sem fazer menção a nenhum livro posterior a Malaquias.
Jesus parece colocar
parâmetros no cânon do Velho Testamento, quando em Mt. 23:35 faz menção
ao sangue de Abel, citando o livro de Gênesis, e mencionando o sangue de
Zacarias(filho do sacerdote Joiada), citando o livro de 2 Crônicas
(24:20-22), último livro do cânon hebraico.
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